"Ai que preguiça..."

[...] Mas cair-nos-iam as faces, si ocultáramos no silêncio, uma curiosidade original deste povo. Ora sabereis que a sua riqueza de expressão intelectual é tão prodigiosa, que falam numa língua e escrevem noutra. [...] Mas si de tal desprezível língua se utilizam na conversação os naturais desta terra, logo que tomam da pena, se despojam de tanta asperidade, e surge o Homem Latino, de Lineu, exprimindo-se numa outra linguagem, mui próxima da vergiliana, no dizer dum panegirista, meigo idioma, que, com imperecível galhardia, se intitula: língua de Camões! [...]" (ANDRADE; 1993. p. 66.)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O padrão e o Facebook

Nesses dias alguns usuários do Facebook têm me deixado intrigado. Quem me intriga é aquele que mantém uma relação ímpar com outros tantos usuários, uma relação de exemplo e de exigência e cobrança. Mas sejamos claros com isso: o que me preocupa são os usuários professores e estudantes das licenciaturas.

Procede-se que, não sei se consciente ou inconscientemente, os professores e graduandos andam se afastando cada vez mais do padrão-culto. Também não sei dizer se isso ocorre somente, aqui generalizo, nas redes sociais. Mas verdade seja dita, o padrão passa longe.

Contudo, deve-se perguntar se não estou sendo preconceituoso. Espero que não! Quando me reporto a essa questão do uso da norma-padrão pelos lincencia(n)dos, em especial, no Facebook, volto-me para a relação destes com os seus alunos. Quem hoje não possui pelo menos um aluno em sua rede? 

O problema é que exigimos deles o domínio da norma, mas na hora de interagir com eles através da escrita, lugar o qual recai toda a cobrança, alguns deixam a desejar.  Você, nesse ponto, pode também se questionar: mas não é ambiente virtual? Sim, claro! Não deixo de levar em conta que a escrita na internet é uma faca de dois gumes, sendo o desvio proposital em determinados (muitos) aspectos. É o caso da exclusão das vogais para formar as palavras somente com consoantes. Por exemplo, "contigo" vira "cntg" ou "ctg" na internet, e de "você" surge o "vc", ou o uso de sinais como em "d+". Só lembrando que não são palavras novas, mas maneiras diferentes de grafar uma mesma palavra. Aqui não deixo, também, de levar em conta os enganos na hora da digitação. Ora, quando digitamos, às vezes apertamos um tecla com pouca força, fazendo com que o caractere não saia, ou ainda batemos na tecla vizinha da que pretendíamos.

Ainda sendo ambiente virtual e de escrita mais descontraída, dá para perceber quando não é proposital o desvio. Exemplo, quando um professor (estudante) de história escreve 10 linhas sem uma única vírgula. Quando ainda no texto desse mesmo sujeito encontramos "mais" no lugar de "mas", "cincero" substituindo "sincero", "ler" vira "lê" e "lê" se torna "ler", "cataram" indica futuro e "cantarão" passa a dar ideia de tempo transcorrido. Esses são alguns poucos exemplos do que tenho visto. Que por sinal são os mesmos problemas que vejo nas redações dos meus alunos de 6º ano.

Isso não quer dizer que eles, os professores a que me refiro, não dominam o português. Digo que eles não dominam uma modalidade da língua: a escrita, principalmente a ortografia dessa modalidade. E o pior de tudo, a modalidade mais cobrada aos alunos. Talvez lhe pareça que eu esteja sendo contraditório agora, visto que anteriormente escrevi um texto sobre "erro" de ortografia, no qual afirmo que não se dá para saber a maneira oficial de escrita de todas as palavras. Mantenho minha posição. Entretanto, um professor não dominar a ortografia de muitas palavras, escrever "cincero", achar que "escrever" se escreve "escrevê" ou que "teve aula" seria "tevi aula" é realmente complicado.

Seu aluno está praticando a escrita juntamente com você, professor! Nessa interação, ele se baseia na sua escrita para formar a dele. Então, professor, use pelo menos a vírgula. Faça  nem que seja um vocativo!

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Os pupilos do Senhor Reitor

À época do lamaçal que houve na UPE-Campus Mata Norte, no ano passado, peguei um texto, do gênero carta pessoal, de Jô Soares, chamado "Começo de Ano", e o adaptei às circunstâncias daquele momento. Apenas uma maneira divertida de criticar a situação em que ficou o campus universitário.

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Carta do Reitor da UPE aos alunos do Campus Mata Norte

Queridos alunos:

Como vão vocês? Eu vou bem. Apenas algumas linhas para desejar um feliz retorno às aulas. Estou
lhes mandando esta carta depois das férias para evitar que ela chegue atrasada. Também escrevo para que vocês saibam que eu continuo vivo. Eu estou escrevendo bem devagarzinho porque eu sei que vocês não conseguem ler depressa.
Quando vocês voltarem das férias, não vão nem mais reconhecer o nosso campus. Nós mudamos. O Governo conseguiu um novo campus maravilhoso. Tem mais de 20 salas. Um miniauditório. Um estacionamento. É sim, nós agora temos um estacionamento para os ônibus de vocês, não é algo que se diga “ó que estacionamento maravilhoso”, mas é um. Na verdade, há lama, mas só um pouco, nada de mais. Nas duas únicas ruas que dão acesso ao campus também há lama, mas como já disse: nada para se preocupar, nada que os impeça de assistir às aulas. E esta semana só choveu duas vezes: de segunda a quinta e de sexta a domingo. O problema é que o dinheiro que serviria para essas obras morreu, então o tivemos de cremar. Falando em enterro, o funeral da FÊFÊPÊNÊMÊ, aquele velho campus, foi um tremendo sucesso. As pessoas aplaudiram tanto que os coveiros tiveram de subir e descer o caixão quinze vezes. Vou acabar de escrever esta carta porque o papel está acabando e o Governador ainda não me concedeu a Autonomia. Se mesmo assim vocês continuarem lendo, é que esta carta não é a minha.

Beijos
do Reitor.

PS.: Eu queria aproveitar o começo de semestre para mandar um dinheiro para vocês, o destinado à assistência estudantil, mas acontece que já fechei o envelope.


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David Pasquinel, também na onda dos protestos, legendou o vídeo sobre Hitler mais famoso da internet, uma cena do filme A Queda: as últimas horas de Hitler.