"Ai que preguiça..."

[...] Mas cair-nos-iam as faces, si ocultáramos no silêncio, uma curiosidade original deste povo. Ora sabereis que a sua riqueza de expressão intelectual é tão prodigiosa, que falam numa língua e escrevem noutra. [...] Mas si de tal desprezível língua se utilizam na conversação os naturais desta terra, logo que tomam da pena, se despojam de tanta asperidade, e surge o Homem Latino, de Lineu, exprimindo-se numa outra linguagem, mui próxima da vergiliana, no dizer dum panegirista, meigo idioma, que, com imperecível galhardia, se intitula: língua de Camões! [...]" (ANDRADE; 1993. p. 66.)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Os pupilos do Senhor Reitor

À época do lamaçal que houve na UPE-Campus Mata Norte, no ano passado, peguei um texto, do gênero carta pessoal, de Jô Soares, chamado "Começo de Ano", e o adaptei às circunstâncias daquele momento. Apenas uma maneira divertida de criticar a situação em que ficou o campus universitário.

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Carta do Reitor da UPE aos alunos do Campus Mata Norte

Queridos alunos:

Como vão vocês? Eu vou bem. Apenas algumas linhas para desejar um feliz retorno às aulas. Estou
lhes mandando esta carta depois das férias para evitar que ela chegue atrasada. Também escrevo para que vocês saibam que eu continuo vivo. Eu estou escrevendo bem devagarzinho porque eu sei que vocês não conseguem ler depressa.
Quando vocês voltarem das férias, não vão nem mais reconhecer o nosso campus. Nós mudamos. O Governo conseguiu um novo campus maravilhoso. Tem mais de 20 salas. Um miniauditório. Um estacionamento. É sim, nós agora temos um estacionamento para os ônibus de vocês, não é algo que se diga “ó que estacionamento maravilhoso”, mas é um. Na verdade, há lama, mas só um pouco, nada de mais. Nas duas únicas ruas que dão acesso ao campus também há lama, mas como já disse: nada para se preocupar, nada que os impeça de assistir às aulas. E esta semana só choveu duas vezes: de segunda a quinta e de sexta a domingo. O problema é que o dinheiro que serviria para essas obras morreu, então o tivemos de cremar. Falando em enterro, o funeral da FÊFÊPÊNÊMÊ, aquele velho campus, foi um tremendo sucesso. As pessoas aplaudiram tanto que os coveiros tiveram de subir e descer o caixão quinze vezes. Vou acabar de escrever esta carta porque o papel está acabando e o Governador ainda não me concedeu a Autonomia. Se mesmo assim vocês continuarem lendo, é que esta carta não é a minha.

Beijos
do Reitor.

PS.: Eu queria aproveitar o começo de semestre para mandar um dinheiro para vocês, o destinado à assistência estudantil, mas acontece que já fechei o envelope.


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David Pasquinel, também na onda dos protestos, legendou o vídeo sobre Hitler mais famoso da internet, uma cena do filme A Queda: as últimas horas de Hitler.


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